A lição da Primavera
21 de setembro marca o início da Primavera aqui no Hemisfério Sul. Aos poucos o clima frio vai embora, dando espaço para um calor brando acompanhado de brisas e uma nova paisagem. Na natureza, a primavera representa a renovação no ciclo das estações: as árvores crescem, florescem e se fortalecem.
Não é à toa que até hoje a teoria dos cinco movimentos ainda é base para o entendimento da medicina tradicional chinesa, do taoísmo e do I Ching. A Primavera está inserida no elemento Madeira, o primeiro dos cinco elementos que representa o fluir da vida. O vento, o frescor e a temperatura ideal são os alimentos para que o reino vegetal se manifeste. Durante a fotossíntese por exemplo, a planta transforma o calor do sol e da água em amido, componente encontrado nos carboidratos, que são a maior fonte de energia para a alimentação e é justamente o fígado (o órgão representante da Madeira) quem metaboliza os carboidratos e armazena o glicogênio, nossa grande reserva de energia.
A energia que chega ao organismo, sintetizada pelo fígado parte então, em todas as direções, traduzindo a importância das funções hepáticas. Todos os nossos movimentos físicos e emocionais dependem então das condições do fígado. Se o movimento diz respeito à saúde do fígado, portanto a estagnação, diz respeito à sua doença. Quando algo sai do controle, paralisa ou se atrasa é necessário rever os sinais que o próprio fígado está manifestando, seja através dos olhos, das unhas, das dores, das articulações, do ciclo menstrual ou mesmo da própria capacidade de lidar com o que vem da vida: mudanças, frustração, expectativa e emoções bem ou mal resolvidas.
Nesse sentido, os melhores alimentos para o fígado são aqueles oriundos do próprio reino vegetal e que carregam consigo a clorofila, o famoso pigmento verde presente nas folhas. Os vegetais verdes em especial, tem grande afinidade com o sangue e com a hemoglobina, o que contribui com a renovação e oxigenação do corpo humano.
Da mesma forma que os vegetais verdes renovam o sangue, para curar a estagnação é necessário se movimentar: buscar novos ares ou locais para se viver ou simplesmente passear, praticar exercícios físicos, se abrir ao aprendizado e expandir o entendimento da vida, é preciso fazer as coisas de forma diferente, ousar, dar vazão à criatividade e buscar ser tolerante à acidez da vida. Nem tudo é como se imagina ou como se quer por isso, a flexibilidade é o componente que mantém a Madeira fluindo com a vida.
Da mesma forma que as plantas precisam de água e cuidados, o corpo e a vida também. Talvez a lição da Primavera esteja justamente em desenvolver a paciência dentro da expansão, ou, nos termos chineses, vivenciar o yin, dentro do yang.
Por Andrea Maciel, publicado na Revista Online Daojia (Taoísmo & Medicina Chinesa)