História e nutrição com o leite

nutrição com o leite

Há alguns anos não tomo leite, desde que conheci a Medicina Tradicional Chinesa. Essa atitude é bem comum quando alguém passa a aprender sobre os ensinamentos orientais. De lá pra cá venho me questionando, observando e aprendendo sobre a origem, história e crenças sobre os alimentos, afinal, antes de retirar algum alimento do cardápio é necessário sim, compreender as razões.Por isso, este artigo visa esclarecer alguns fatos sobre o leite.

História e nutrição com o leite

O primeiro alimento que o ser humano recebe na vida é o leite, seja de sua própria mãe ou não, é ele quem fortalece e é composto por todos os nutrientes necessários ao crescimento do bebê.

Historicamente, alguns mamíferos (vacas, cabras, ovelhas) também doaram seu próprio leite para manter a vida de nossos avós.

O leite estava lá com os nossos antepassados e nas sagradas escrituras do Ocidente, que atribuem o paraíso à terra de leite e mel. O leite foi produto, foi remédio, foi oferenda e o também o ingrediente mais presente nas mesas fartas.

Vaca com marcador na orelha

Como todo elemento da história, o leite passou por transformações. Com o crescimento da população, a produção de leite mudou drasticamente. A expansão da indústria de alimentos ensacou, encaixou e modelou o leite. Surgiu a pasteurização e o UHT (que mata microorganismos, desativa enzimas e dá vida longa ao leite) e a homogeneização, que afeta seu sabor e o paladar na tentativa de harmonizar a aparência do leite.

Nutrição

Na nutrição, o leite já foi aclamado como o alimento mais nutritivo que existe, afinal ele dá saúde aos nossos bebês. Fonte de cálcio, magnésio, manganês, zinco, potássio e diversas e vitaminas, o leite é de origem lipídica e contém 60 calorias a cada 100ml. Os lipídios são essenciais para a estrutura corporal e cerebral, portanto, na fase inicial da vida, o leite, de origem materna é indispensável.

De onde vem o leite que se toma, posteriormente à amamentação? Dos ruminantes. Somente os animais com essa ação estomacal diferenciada é quem conseguem extrair todos os nutrientes dos vegetais que eles mesmos comem e é a qualidade do capim consumido e ruminado que dá o tom e o sabor do leite. O leite moderno e industrial perdeu isso, junto à grande parte de seus nutrientes.

Curiosamente à história e à tradição, o consumo de leite nunca foi comum na China, especialmente porque “não se criavam animais produtores de leite, talvez por que a agricultura chinesa tenha começado em locais onde a vegetação natural não é composta de capins, mas sim de losna e erva de santa-maria, que são tóxicas” (McGee, 2010). A ausência na produção gerou hábitos diferentes à cultura chinesa, que valorizou o chá ao invés do leite.

O leite de vaca natural é de natureza fresca, hidrata, promove fluidos, age no Coração (Xin), no Pulmão (Fei) e principalmente na nutrição do elemento Terra. De sabor doce, o açúcar do leite é a lactose, famosa atualmente por gerar intolerância. Na medicina chinesa entende-se que os laticínios, como fonte de lipídios, são densos ao organismo e por isso devem ser evitados para não gerar acúmulos (resíduos), ao qual se chama de Umidade (Shi).

Quando o elemento Terra está enfraquecido a digestão fica comprometida, por isso alimentos densos se alojam no organismo gerando intoxicação. À esse processo, que se repete de forma contínua a medicina deu o nome de intolerância à lactose. A falta de uma pequena proteína chamada lactase é uma das deficiências de yang do Baço, na visão da medicina chinesa.

Por fim, em respeito à história, à cultura e à tradição antiga, particularmente não condeno o consumo de leite, mas estou convicta de que o consumo diário de leite pode ser desnecessário se a alimentação for rica, natural e diversificada, sobretudo com alimentos que contenham cálcio como o kefir, o gergelim, algas e muitos outros.

O leite, portanto, é melhor digerido por indivíduos que não sofrem de deficiência de yang e que possuem um metabolismo forte.

Se você ama leite e não quer retira-lo de sua alimentação, aqui vão algumas dicas:

mulher segurando garrafa de leite

  • Dê preferência ao consumo de leite fresco, jamais em caixinhas.
  • Invista no preparo de seu próprio leite, a partir de amêndoas ou coco.
  • Utilize leite de kefir, que é ainda mais funcional do que o leite integral.
  • Limite-se ao consumo de até 2x na semana, dando a oportunidade para o consumo de outras bebidas como os chás ou sucos.
  • Antes de tudo, observe sempre a sua língua. A saburra espessa indica a presença de agentes patogênicos. Nessas horas, o leite precisa ser realmente eliminado, até que a normalidade se estabeleça.

Com o consumo moderado e consciente, quem sabe assim, é possível dar um descanso às vacas escravizadas nas fazendas.